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Tratamento conservador ou mastectomia: o que decidir?

Tratamento conservador ou mastectomia: o que decidir?

Nos últimos anos é impressionante o número de pacientes com câncer de mama que chegam no consultório com a idéia consolidada de que o melhor tratamento seria a retirada das duas mamas, seria este o melhor tratamento? Vamos tentar responder esta dúvida.

A mama é uma glândula modificada composta de pele, gordura e tecido (ou parênquima) mamário. É neste último que geralmente se  inicia o câncer de mama.

Incialmente achava-se que o melhor tratamento para o câncer de mama seria a retirada completa e agressiva da mama, causando um aspecto estético mutilatório, bastante desfavorável. Com o tempo percebeu-se que a agressividade das cirurgias não tratava o problema completamente. Quando começou-se a usar a radioterapia em associação com cirurgias menores que conservavam as mamas, percebeu-se que as taxas de tratamentos eram muito parecidas com as das mastectomias (retiradas das mamas) extensas. Depois disso e, mais recentemente, houve a associação de técnicas de cirurgia plástica para retirar parte da mama e permitir sua reconstrução para que, além de muito bem tratada, as mamas tivessem uma aparência preservada (cirurgias oncoplásticas). 

Mas se o tratamento conservador associado a radioterapia possui as mesmas taxas de tratamento que a mastectomia, por que esta cirurgia continua sendo feita?

Primeiramente, nunca se pode generalizar um tratamento, é importante que cada caso seja individualizado. Sendo assim, algumas situações exigem a indicação das famigeradas mastectomias;

Segundo, na busca por um diagnóstico precoce, exames de imagem foram desenvolvidos e alguns deles como a ressonância magnética acabam mostrando, em algumas situações, áreas que tendem a demonstrar maiores extensões, sugerindo, supostas lesões nas mamas. Portanto, lesões grandes e extensas sugerem uma cirurgia maior. Necessária atenção da equipe médica para que se evitem cirurgias extensas desnecessárias;

Terceiro, a evolução dos testes genéticos permitiram maior acesso de todos. No entanto, em torno de 5 a 10% da população apresentam testes positivos que indicam a realização de cirurgias para retirada de ambas as mamas. Ressalto que o benefício desta cirurgia bilateral é claro quando mutações genéticas são encontradas. Outras indicações podem existir, mas precisam ser discutidas individualmente; 

Quarto, lendas urbanas e falta de compreensão associadas à informações incompletas podem causar medo e desconfiança em pacientes e médicos. Geram um medo desnecessário dos tratamentos seguros e, portanto, acabam impulsionando cirurgias maiores e muitas vezes desnecessárias com uma falsa impressão de maior segurança, apesar de um número maior de riscos e possíveis efeitos colaterais; 

Quinto, uma evolução das técnicas de reconstrução mamárias e dos implantes favorecendo a preservação de um contorno corporal, mesmo após grandes ressecções de tecidos. Novamente, aqui, as pessoas esquecem que são cirurgias reconstrutoras e não estéticas, portanto são susceptíveis a efeitos colaterais diversos. Quer saber alguns? Podem perder a sensibilidade da pele e do mamilo, as mamas podem ficar com tamanhos diferentes; podem apresentar infecções e terem de remover as próteses; perdem a chance de amamentar, entre outros;

Por último, a eficiência de um tratamento para o câncer de mama depende de uma série de fatores interrelacionados, entre os quais os aspectos biológicos do tumor. É importante entender que a doença pode voltar, mesmo após mastectomias.

Dito isto, vamos entender sobre os tipos de mastectomia:

  • simples: quando a mama é retirada com pele e gordura, gera uma cicatriz e um tórax reto, sem contorno feminino
  • radical: seria a mesma acima , mas acrescida da limpeza de todos os linfonodos (ínguas) na axila do lado da mama operada  
  • conservadora de pele (Skin Sparing): feita a retirada mama com a aréola e mamilo, preservando o máximo possível o envelope de pele que cobre a glândula e gordura, favorece uma reconstrução imediata
  • conservadora de pele e mamilo (Nipple sparing): retira toda a glângula mamária preservando o máximo de pele e a aréola e o mamilo, permitindo excelentes reconstruções, desde que bem feitas. Vamos discutir sobre isto.

Estas técnicas de mastectomias conservadoras de pele são relativamente recentes e podem ser perfeitamente aplicadas, contudo precisam permitir um tratamento ideal. Em outras palavras de nada adianta a paciente se submeter a uma cirurgia como esta e não ter o seu tecido mamário corretamente removido. Aí é que está o problema! Para obter um resultado aceitável muitos cirurgiões acabam fazendo estas mastectomias poupadoras, deixando muito tecido para atrás. Se tecido mamária está sendo deixado,  isto é uma mastectomia ou uma cirugia conservadora? Esta acompanhando meu raciocínio! Se a cirurgia deixou tecido, com certeza seria maior a chance de bons resultados, mas também seria necessária radioterapia para garantir a segurança, não foi o que vimos acima? Pois é! As mastectomias conservadoras são excelentes, mas precisam ser muito bem realizadas, com cautela e toda atenção para que a paciente realmente seja tratada e esteja segura. É importante entender que a segurança da paciente precisa estar sempre em primeiro lugar e que o resultado estético deve ser secundário. Claro que um médico experiente vai buscar lhe proporcionar segurança e um bom resultado!

Vamos fazer um resumo:

– Converse com seu médico a respeito, esclareça suas dúvidas. 

– Não tenha medo do tratamento conservador. 

– Não considere a mastectomia uma opção por escolha, principalmente a bilateral. Entenda que ela deve ser feita quando indicada e da melhor forma possível, devendo a preocupação estética ser secundária a segurança oncológica. 

– Entenda que a preservação das mamas, com diversas técnicas de cirurgia conservadora, associada à radioterapia pode ser considerada o melhor tratamento, tão seguro quanto uma cirurgia mais extensa e com excelentes resultados e mamas naturais. 

  • cirurgias oncoplásticas podem propiciar tratamentos conservadores ideais e seguros e ainda simetrizar as mamas opostas, não sendo necessária a mastectomia bilateral

– Apesar disso os tratamentos precisam ser sempre individualizados a fim de se encontrar a melhor opção para cada paciente

  • Procure sempre um cirurgião com experiência e treinamento para lhe proporcionar segurança. 
  • Lembre-se: mama bonita é mama saudável!

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter, e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como mastologista em Ribeirão Preto!

    

Posted by Dr. Gustavo Zucca Matthes in Todos